segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Penso, logo existo


Estavas certo Descartes, porquê duvidar da existencia, não tenho melhor prova. Rendo-me perante a tua conclusão! És um génio. Existo, sinto-me vivo!

Um simples café... meter conversa com a senhora no autocarro... a senhora do café... um adormecer no sofá. Sim, estamos vivos!

"O homem é eminentemente um ser social" diziam-me numa aula de sociologia. Interrogo-me muitas vezes sobre isto. Uma necessidade levou-me hoje ao IKEA. 15h30 min. Não haverá ninguém. Estupidamente o meu pensamento enganou-me. Filas intermináveis. Gente sofrega... Apercebi-me que tinha saído o novo catálogo e a sofreguidão pela compra... a necessidade de encher o vazio que sentem fá-los correr e empenhar-se até aos cabelos. Felizes, assim parecem. Infeliz assim pareço, deslocado naquela multidão crepitante... decadente. Sinto-me a rapariga do copo de água em "Le Déjeuner des Canotiers" de Renoir.

Estão ao meu lado... animadamente a discutir onde irão colocar a lista de casamento... quão felizes. Tinha em mente comprar umas coisas... não consegui, limitei-me a trocar o artigo defeituoso e a sair. Tinha que sair dali o mais depressa possível. Quão estranho é isto? Porque terei a necessidade de fugir deste tipo de multidões?

No outro dia, domingo à tarde quando disse que não queria ir a Expo porque havia muita gente e fui olhado de lado percebi que mais uma vez devia ter estado calado. Fingir para não ser notado é a solução. "então onde querias ir?" perguntaram-me. (todos querem ser notados... eu so quero não ser notado)


"não sei"... respondi vagamente.

"Apetece-me simplesmente andar por aí... num local de preferência sem crianças nem familias... ansiosas por preencherem o vazio que sentem. Que feliz é quem não pensa!"


A segunda parte foi só pensada... seria chacinado se a falasse. Não falar o que penso é porreiro. Assim pelo menos não sou chacinado! Estou integrado. E quão importante é estarmos integrados! Somos aceites... e melhor que isso... não somos notados!

Em tempos percebi os que se querem suicidar. Neste momento acho um erro. Sentirmo-nos vivos é importante. Gostar de pessoas... falar com amigos... uma gargalhada. Só se podem fazer estas coisas na condição humana. Só posso divagar se estiver vivo! Isto enche-me! Seria porventura feliz se não pensasse tanto, se não escrevesse isto?...

Encontraria de certeza um refúgio. Sou igual aos outros todos, tambem faria a lista de casamento enquanto esperava pela minha vez no IKEA. Quão feliz sou! Quão feliz seria. Afinal o homem é um ser gregário, em todos os nichos procura bem estar, todos nos adaptamos e todos buscamos o mesmo, felicidade. Somos todos iguais! Sinto-me vivo!



Penso, logo existo.

1 comentário:

poppy disse...

Novos ventos vão surgir...
Novos pensamentos irão aparecer...
E qualquer dia estás na fila do IKEA a fazer a lista de casamento.
Somos todos iguais em muitos aspectos, mas há sempre alguma coisa que nos distingue a cada um. O meu lema passa por tentar pelo menos uma vez por dia perceber que sou feliz, mesmo que por vezes a adversidade não me permita perceber o quanto sou feliz. Faço (com atrevimento) das palavras de Fernando Pessoa as minhas: "
"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um não. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."